Thiago Trindade

Inundações em Teresina: a herança que ninguém merece

Gestão corre contra o relógio para solucionar problemas estruturais da cidade, porém a situação é crítica e o tempo, nosso pior inimigo

07 de março de 2022 às 21:24
5 min de leitura

Toda vez que o céu fica nublado, os teresinenses já ficam em alerta.

Grupos de WhatsApp começam a se movimentar, com fotos e vídeos do céu e sempre com os mesmos conselhos: “Evitem sair de casa!”

Teresina é uma cidade bastante afetada por inundações, mas a vulnerabilidade que a capital está apresentando nos últimos anos é de preocupar. O problema não é recente e a população já está acostumada com os alagamentos, mas não com fatalidades. Em 2018, e em 2022, duas pessoas foram vítimas das fortes enxurradas na cidade.

Em 2018, Carla Daniela Moraes Rodrigues, de 32 anos, saiu para ir ao comércio para comprar algo para o seu filho, mas durante o caminho acabou se desequilibrando, e foi arrastada pela força das águas. Após o desaparecimento, Carla foi encontrada sem vida no residencial Torquato Neto, localizado na zona sul de Teresina.

Carla Daniela Moraes Rodrigues, 32 anos.

A morte de Carla deveria ter servido de exemplo para a gestão passada ter tomado providências, e dado início a um projeto de drenagem efetiva nas áreas mais afetadas. Mas, os anos se passaram, e as falhas na infraestrutura da cidade foram deixadas de lado.

No entanto, quatro anos depois a história se repete, mas com outro personagem.

Wana Sara Cavalcante Henrique, 39 anos.
Reprodução

A professora da rede pública municipal, Wana Sara Cavalcante, de 39 anos, teve seu carro arrastado durante um forte temporal. O veículo chegou a ser engolido por uma cratera na Avenida Homero Castelo Branco, o que chamou a atenção de todos, é que o seu corpo foi encontrado na saída de uma galeria, a cerca de 2 km de distância do local de desaparecimento.

Carro de Wana Sara sendo retirado da cratera,

Após a morte de Wana Sara, as medidas de precaução foram reforçadas. A prefeitura da cidade que herdou os problemas não solucionados, realizou um mapeamento de trechos que devem ser evitados em caso de chuva, instalaram placas de advertência, bloquearam trechos intrafegáveis, além de estarem trabalhando dia e noite na construção de galerias e rotas de esgoto, que devem solucionar temporariamente o problema.

Não podemos negar que está havendo esforço para amenizar a situação, porém, a cada chuva, os transtornos continuam surgindo.

Durante todo o final de semana choveu, e nesta segunda feira (07) não foi diferente. Na tarde de hoje, um motorista ficou preso dentro de um veículo modelo Saveiro, após cair em um grotão no bairro São Cristovão. O carro ficou completamente coberto pelas águas. Felizmente, o condutor e um passageiro foram socorridos a tempo.

Motorista e passageiro passam bem.

Já no sábado, uma cratera se abriu no bairro Dirceu II, na zona sudeste da cidade. A rua onde a grota se localiza está interditada, mas antes que a SAAD Sudeste pudesse tomar providências, também na tarde de hoje, um homem se desequilibrou e caiu dentro do buraco. Ele foi resgatado por populares e pela equipe do corpo de bombeiros.

Homem cai em cratera que surgiu após chuvas em Teresina.
Reprodução

Todos esses exemplos trazem uma conclusão: Teresina é uma cidade frágil. A cidade cresceu de forma descontrolada, e o seu desenvolvimento urbano não conseguiu acompanhar, fazendo com que todo o centro urbano fique vulnerável a situações como essas.

Vias de fato, Teresina foi entregue a nova gestão em péssimo estado, apesar disso, os esforços têm sido feitos, mas precisam e devem ser mais acelerados. O tempo de espera da população por uma solução já está esgotado, e não é para menos.

O atual prefeito Dr. Pessoa hoje lida com a impaciência de uma população que já desacreditou dos políticos que sempre rondaram por aqui e hoje, deposita no atual mandatário a esperança de uma resolução célere para problemas antigos da nossa capital.

Entendo que para as obras serem feitas com excelência e qualidade demanda tempo.

Mas o tempo hoje para os teresinenses, literalmente, tem sido o nosso maior inimigo.

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Este texto foi escrito com a colaboração da redatora Monalisa Mendes.

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