Vote no meu filho
Políticos com mandato lançam filhos candidatos nas eleições deste ano no Piauí.
A política passada de pai para filho é uma tradição no Brasil. Historicamente, clãs políticos se perpetuam no poder através da herança eleitoral que filhos herdam dos pais. Em muitos casos, famílias estão há décadas na cena política. Aliás, há casos em que famílias estão presentes na política há mais de um século no Brasil.
No Piauí, essa realidade não é diferente. Por aqui, a tradição de políticos lançarem os filhos na vida pública parece ser ainda maior e tem crescido cada vez mais nos últimos anos. Nas eleições deste ano, são muitos os casos de pré-candidatos que são filhos de políticos que possuem mandato. A reportagem listou os casos que se enquadram nessa realidade, considerando apenas as situações em que os pais ocupam cargos eletivos na atualidade.
O senador Marcelo Castro (MDB), cujo pai Zé de Castro foi deputado estadual e prefeito de São Raimundo Nonato, vai lançar o filho José de Castro Neto (PSD) como candidato a deputado federal. Na sombra política do pai, o jovem que leva o nome do avô é um dos muitos pré-candidatos cujo principal trunfo eleitoral é a força política do pai.
Outro exemplo, que chama bastante atenção, é o do presidente da Assembleia Legislativa do Piauí, Themístocles Filho (MDB). Ele tem dois filhos pré-candidatos nas eleições deste ano. Além de tentar reeleger Marcos Aurélio Sampaio (PSD) para deputado federal, decidiu lançar um outro filho na política. Como será candidato a vice-governador na chapa de Rafael Fonteles (PT), Themístocles aposta em Felipe Sampaio para tentar manter a cadeira na Assembleia. Com isso, terá um filho candidato a deputado federal e outro candidato a deputado estadual.
Quem também colocou o filho na política foi o deputado federal Júlio César (PSD). Nas eleições deste ano, vai trabalhar para ajudar a reeleger o filho Georgiano Neto (MDB) para deputado estadual. Georgiano foi eleito pela primeira vez em 2014, quando tinha apenas 20 anos de idade. Ele completou os 21 anos pouco antes de tomar posse.
Outro que também preferiu colocar o filho na vida pública foi o deputado federal Flávio Nogueira (PT). Nas eleições deste ano, Nogueira buscará a reeleição para a Câmara Federal e seu filho, Flávio Nogueira Júnior, vai tentar se reeleger deputado estadual. Por terem os nomes iguais, muitos se referem a eles nos bastidores políticos como “os Flávios”. Boa parcela das bases eleitorais do pai também vota no filho.
Outro exemplo é o do deputado federal Átila Lira (Progressistas). Depois de oito mandatos como deputado federal e uma carreira política longeva no estado do Piauí, Átila não vai buscar a reeleição este ano, mas resolveu lançar o filho. Se apoiando na sombra do pai, o jovem Átila Filho vai disputar sua primeira eleição e, assim, tentar manter a cadeira ocupada pelo pai por longos 32 anos no Congresso Nacional.
Outro político tradicional que decidiu colocar filho em disputa eleitoral foi o prefeito de Parnaíba, Mão Santa (União Brasil). Após ter ocupado diversos cargos políticos no Piauí, inclusive o de governador do Estado por dois mandatos, o atual gestor de Parnaíba lançou a filha Gracinha Moraes Sousa como pré-candidata a deputada estadual. Como estratégia para colar sua imagem ainda mais na imagem do pai, Gracinha passou a usar o nome “Gracinha Mão Santa” em sua pré-campanha para a Assembleia Legislativa.
A deputada estadual Lucy Soares (Progressistas), viúva do ex-prefeito de Teresina Firmino Filho, também terá uma filha disputando as eleições deste ano. Lucy não vai concorrer à reeleição, mas sua filha Bárbara Soares está em pré-campanha para a Assembleia Legislativa do Piauí. Bárbara, que é médica e tem 27 anos, herdou bases eleitorais da mãe, mas tem como principal mote de campanha preservar o legado do pai, que foi vereador, deputado estadual e prefeito de Teresina quatro vezes.
Quem também resolveu fazer parte da tradição de lançar filhos na política foi o deputado estadual Evaldo Gomes (Solidariedade), que costuma se gabar de não ser filho de político tradicional e nem oriundo de família abastada. Evaldo lançou a filha Fernanda Gomes para vereadora de Teresina de 2020 e agora, menos de dois anos depois, já quer colocar a moça na Câmara Federal. Se for eleita, Fernanda deixará o mandato de vereadora na Câmara Municipal de Teresina para cumprir expediente em Brasília.
Na cidade de Campo Maior, o prefeito Joãozinho Félix (MDB) aposta no filho Dogim Félix (Progressistas) para deputado estadual. Será a primeira vez que o rapaz vai para uma disputa eleitoral. A família Félix já teve Antônio Félix, irmão de Joãozinho, como deputado estadual. Atualmente rompido politicamente com o irmão, Joãozinho preferiu lançar o filho. Com a influência do pai, Dogim espera conseguir apoios na região dos carnaubais.
Outro prefeito que também decidiu apostar no filho foi Gil Paraibano (Progressistas), da cidade de Picos. Ele lançou o filho Aldo Gil como pré-candidato a deputado estadual. Nas últimas eleições, Gil Paraibano apostou na sobrinha Belê Medeiros para a Assembleia Legislativa. Belê chegou a ganhar uma eleição e em outras ficou na suplência e assumiu o mandato, mas dessa vez ela não será candidata. Aldo Gil vai ser o nome da família na busca pela cadeira de deputado estadual, confiante na força política do pai.
A relação de pré-candidatos que são filhos de políticos no Piauí é imensa, mas esta reportagem apresentou apenas os casos em que o pai ocupa mandato atualmente.
Vote na minha mulher
Assim como políticos costumam lançar os filhos, também há aqueles que lançam as suas mulheres. No Piauí, o ex-governador Wellington Dias (PT) – que foi governador até 31 de março – lançou a esposa Rejane Dias (PT). Primeiro foi deputada estadual, eleita quando ele já era governador. Depois, colocou Rejane na disputa por uma vaga de deputada federal, cargo para o qual tentará a reeleição este ano para o terceiro mandato consecutivo.
Outro que preferiu ampliar o poder no próprio quintal foi o deputado federal Júlio César (PSD). Ele já consta nesta reportagem por ser pai do deputado estadual Georgiano Neto, mas agora, além do filho, quer a esposa na política. Sua mulher, Jussara Lima foi indicada pelo partido que ele mesmo preside para a vaga de 1ª suplente de senadora na chapa que tem o ex-governador Wellington Dias (PT) como pré-candidato ao Senado.