Indicado de Ciro Nogueira alertou sobre atuação de pastores no MEC
Presidente do FNDE denunciou caso ao então ministro da Educação; Casa Civil barrou nomeação de pastor.
O presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, indicado pelo ministro da Casa Civil Ciro Nogueira, denunciou ainda em agosto de 2021 ao então ministro da Educação Milton Ribeiro, a atuação do pastor Arilton Moura no MEC. Foi o que ele disse em depoimento à Controladoria-Geral da União (GCU), cujos trechos foram publicados na segunda-feira (27) pelo site O Antagonista.
Lopes da Ponte alertou o então ministro sobre pedidos de Arilton por “vantagens indevidas” para mediar a liberação de recursos da pasta. Ele afirmou aos integrantes da CGU que tinha conhecimento da atuação do pastor por meio de denúncias de parlamentares, prefeitos e assessores e que levou o caso ao conhecimento de Milton.
“As insinuações do sr. Arilton Moura nunca trataram de números,mas de frases como ‘me ajude que eu te ajudo’”, disse Lopes da Ponte no depoimento à Controladoria.
O depoimento do presidente do FNDE à CGU aponta ainda que “tão logo recebeu a insinuação do sr. Arilton, comunicou ao sr. Victor Godoy [então secretário-executivo do MEC] e, posteriormente, ao ministro da Educação”. Milton Ribeiro chegou a indicar o pastor Arilton para o cargo de gerente de projetos na Secretaria-Executiva do MEC, com vencimentos de R$ 10 mil mensais, mas a nomeação foi barrada pela Casa Civil.
O depoimento do presidente do FNDE e a decisão da Casa Civil de barrar a nomeação de Arilton Moura apontam que já havia a intenção de conter a atuação dos pastores no MEC. Marcelo Lopes da Ponte é ex-chefe de gabinete de Ciro Nogueira no Senado e foi indicado para o cargo de presidente do FNDE antes de Ciro se tornar ministro. O FNDE tem orçamento anual superior a R$ 60 bilhões.
A atuação dos pastores lobistas no Ministério da Educação só veio a público em março deste ano, sete meses depois do presidente do FNDE ter denunciado ao então ministro. Uma série de reportagens do jornal O Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo em março deram visibilidade ao caso que virou escândalo.