Entre lágrimas e luzes: a incoerência de prefeitos do Piauí diante da seca

Prefeito chorou ao pedir socorro, mas mantém show caríssimo no município.

Em meio à pior estiagem dos últimos anos, o prefeito de Fartura do Piauí, Orlando Costa, chorou ao vivo durante uma entrevista ao comentar sobre a seca devastadora que assola o município. As lágrimas, que num primeiro momento comoveram, rapidamente deram lugar à perplexidade de muitos internautas ao se depararem com uma publicação do próprio prefeito, dias antes, anunciando um show festivo para o próximo dia 30, com custo estimado superior a meio milhão de reais.


Enquanto a população de Fartura do Piauí, assim como de outros municípios piauienses, enfrenta racionamento de água, perdas nas lavouras e escassez de pasto para o gado e outros rebanhos, pilares da economia local e sustento de milhares de famílias, os gestores públicos seguem promovendo eventos de grande porte e, quando questionados, respondem que tais festas são financiadas por emendas parlamentares, como se isso deixasse de ser dinheiro público que poderia, sim, ser redirecionado para ações emergenciais, especialmente no combate à crise hídrica.

O contrassenso salta aos olhos: de um lado, prefeitos clamam por ajuda estadual e federal para enfrentar a seca; do outro, mantêm na agenda espetáculos com artistas como a Banda Calcinha Preta, uma das mais caras do país. Independentemente da origem dos recursos, a destinação de centenas de milhares de reais para entretenimento em plena calamidade hídrica soa, no mínimo, como uma afronta.


A pergunta que ecoa é simples: qual é a real prioridade de um município que precisa "pedir socorro" para garantir água nas torneiras, mas não hesita em bancar grandes festas?

Não se trata de ignorar a importância cultural e social dos eventos populares. Mas, diante de uma emergência em que cada real pode salvar vidas e dignidade, gastar tamanha quantia com festividades é, sem dúvida, um ato de incoerência administrativa – e de insensibilidade.

Será que chorar diante das câmaras basta para justificar decisões tão distantes da realidade do povo? E o povo, será que terá água ao menos para um  banho para ir ao show?

Em tempo, a afirmação de que o show não foi cancelado pela prefeitura, ou pelo prefeito, que fez o anúncio, se limita ao horário da publicação da matéria.