O governador do Amapá, Clécio Luís, usou as redes sociais nesta semana para lançar uma crítica direta à superficialidade dos grandes debates ambientais.
Em vídeo que repercutiu nacionalmente, ele afirma:
Na Amazônia, desenvolvimento sustentável precisa ser mais que um discurso bonito. Tem que gerar renda, emprego e dignidade pra quem vive aqui.
A declaração foi feita como parte da preparação para a COP30, conferência global sobre mudanças climáticas que será realizada em Belém (PA) em novembro de 2025, com o Amapá confirmado como uma das subsedes oficiais do evento. Clécio tem se posicionado como uma das vozes mais firmes na defesa de uma Amazônia ativa nas decisões e não apenas celebrada em discursos.
Ao completar: “A COP não pode virar um festival”, ele mira o risco do evento se transformar em vitrine política sem compromissos concretos com as populações amazônicas.
O peso de quem preserva e ainda espera
O Amapá lidera os índices de preservação ambiental no Brasil, com mais de 70% do território protegido por leis. Ainda assim, enfrenta um dos cenários sociais mais delicados do país. Dados do governo mostram que mais da metade da população depende de programas assistenciais. O contraste é evidente: enquanto protege a floresta, o estado segue esperando por desenvolvimento que alcance seu povo.
Esse descompasso entre reconhecimento ambiental e ausência de políticas estruturantes sustenta a cobrança do governador. A floresta é valorizada no discurso, mas quem vive nela segue sem as garantias básicas.
Propostas aplicadas à realidade
Clécio não se limita à crítica.
Em 2024, o Amapá lançou o Plano Estadual de Apoio à Sociobioeconomia, com apoio de instituições como Sebrae-AP, USAID e BNDES. O plano estimula cadeias produtivas sustentáveis a partir da biodiversidade local: óleos vegetais, sementes, frutas nativas e bioativos. A proposta é simples e estratégica: usar o que já é preservado para gerar renda e movimentar a economia de forma responsável.
Além disso, o governador tem defendido o uso controlado de petróleo e gás como fonte de financiamento para a transição energética. Segundo ele, ignorar essa capacidade produtiva seria fechar os olhos para a realidade local. A ideia é garantir que os recursos fósseis sejam parte do caminho para alcançar uma economia verde.
A COP30 como espelho do Brasil
Ao chamar atenção para os limites da COP30, Clécio Luís propõe um debate mais honesto sobre o papel do Brasil na agenda climática. O que ele levanta não é apenas uma crítica à conferência, mas uma leitura nacional: enquanto alguns falam da Amazônia como ativo global, os próprios amazônidas enfrentam fome, desemprego e isolamento.
Esse mesmo tipo de ausência é sentida em comunidades rurais do Nordeste e em diversas periferias urbanas do país. A fala do governador revela uma questão maior: a desigualdade na distribuição dos ganhos da sustentabilidade.
A proposta de Clécio é que o país pare de olhar a floresta de longe e comece a ouvi-la de perto.
Análise Lupa 1
Clécio Luís não discursa para plateias internacionais. Fala de dentro, com o peso de quem governa um estado que preserva como poucos, mas recebe como quase nenhum.
Ao cobrar que a COP30 não vire vitrine, ele desmonta a encenação de um país que adora exibir floresta, mas hesita em investir em gente. Não é uma provocação, é um lembrete incômodo: não existe justiça climática sem justiça social.
Se o Brasil quiser ser protagonista no debate ambiental, vai precisar primeiro reconhecer quem sustenta essa pauta com o próprio silêncio. E dar voz a quem, até agora, só foi usado como argumento.
A Amazônia não quer palco. Quer prioridade.
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